Vida, amor, receitas de bolo Os garotos estão correndo de moto no asfalto do litoral sul de São Paulo Eu estou no deserto e ninguém se lembra de mim E eu agradeço à Deus por estar no deserto eu pedi à Deus que não mais lembrassem de mim Não tão cedo vou voltar no mercado e tirar foto dos peixes congelados Eu ja olhei pro mesmo sol da praia Atrás do sofa tem uma rua chuvosa, dentro desta sala, eu não posso sentar porque uma vidraça me impede, estou esperando a chuva passar na calçada As dores passam, o que doía já não dói mais Uma semana atrás, eu não dormia por dor de dente, agora o dente não dói As paredes de casa são as paredes de casa Eu queria morar no mato, achei que ia voltar para casa do meu pai A era dos bichos de estimação ou das drogas recreativas É melancólica a calçada, mas a casa não Eu deito de lado de costas para o computador sendo a cama e o colchão uma das maiores invenções da humanidade Caindo frutas Essa me parece a noite mais confortável Sem bestas Pela primeira vez eu deixei os pernilongos me picarem Meus amigos pernilongos, comam Vou chegar na minha cidade e acender uma fogueira E nisto queria assar carne, mas eu nao tenho dinheiro para levar carne Vou pedir para o meu pai Estou com fome tenho pipoca e quase nunca transo Eu olho as fotos dos anos passados e estou engordando Liberdade tossir vendo carros passando A cidade grande mal tem horizonte Algo grande me distraía Como sei lá o quê de uma catedral e eu fecho os olhos Pensar em fazer Essa manhã eu sonhei que eu namorava Parar de fazer tudo e ir assistir tv ao vivo Quanto mais longe eu vou menor eu fico Se eu pudesse ver algo As escamas do peixe refletindo o Sol Suspender sentidos e estender prazeres é o que Madonna faria Queríamos um quintal relvado com uma piscina de alvenaria Eu lembro alvorecer Blocos cerâmicos na mata atlântica Cerração e poeira mineral Como um alicate apertando-me o nariz Queriamos devorar as frutas do Natal Queríamos escapar do Sol no Verão Eu estraguei tudo São incríveis guarda-sóis fincados naquele banco de areia Vou virar as costas Vamos viver tudo de novo Êxitos das malandragens Como conseguir mais crédito na Lan House Como conseguir mais tatuagens Nós queremos mais outra chance Eu achei que seria bom escrever um livro Encostamos no sofá para sempre Durante intervalos das cortinas em venezianas apostamos no cobalto postergar galhos pretos Eu afundei os dedos nas pálpebras até surgirem do lodaçal oscilante cavalos correndo e quadriláteros fractais Embora oblitero-os Aqueles olhos em dispersão coloidal Frescura no corpo longe de casa Vampiros que sugam energia vital Me mostra uma coisa que muda de forma Notável como as pessoas saem de moda Amor não correspondido é a nova sensação do momento O país me esperou por vinte anos lá fora O dia é de mentira Pós-paisagem O artista em anonimato O sol nos portões de aço Um fantasma atravessando as rodovias Eu desfaria Alegrai-vos destas vidas tuas Pós tantas desventuras verdes-vos vivos por vidros das cabines de banho Correntes de ares das sombras serranas Eu nunca conheci outra pessoa Tudo é estranho Parvos flanam Resolver expressões matemáticas por achar bonito O luxo é algum tipo de memória olfativa de um ritmo de vida que eu experimentei por um curto espaço de tempo Acho que foi o café solúvel que derrubei nos dedos misturado com o sabão em pó no pano de prato úmido no varal de chão do quarto Alguma condição sócioeconômica que pra mim enquanto criança se mostrou uma possibilidade Uma cidade... O cheiro vira móveis e decoração Taxistas, garçons As baratas são cachorros Meu joelho volta ao lugar Você viu tudo deformando, finalmente Abrir conversas e fechar conversas... Cada um dos dias são tão formais À beira dos trinta artista aspira mostras, imaginando cenários tateando no escuro da sala pro quarto da casa da mãe Você me lembra eu Gozando dentro de uma mulher careca Eu derramo leite no chão dum sonho lúcido e insisto em limpar Meu pensamento começa a tomar forma humana Meu medo antropológico, eu ainda não comecei a ter medo das formas abstratas As figuras do medo serão datadas pelas vanguardas Minha bermuda listrada e meu colchão escuro: é a praia Na minha busca de imagem modelos e pombas se misturam Eu limpava e sujava Eram os dinossauros Vou ter de chutar os cães selvagens Tentei passar devagar para estar num lugar Olhei para o lado para ver a rua onde eu morava e nao vi nada Duas pessoas passeando Que bom que são só quatro meses de verão Estar em frente a tela do computador parece com estar em frente a praia Vamos cochilar nas restingas Vamos sugar ostras Pegar jacarés na arrebentação Programar passatempos Desconhecemos contatos físicos Ampliando espirais até sentir arrepios Eu me distraí Outono à tona Eu me distraí para ver as ilusões A Lua nunca teve um rosto Introspectivo Eu vi você piscando sorridente Aonde eu estou?! Queria tirar dinheiro do bolso Esquecendo objetos pessoais São os raios solares nos meus cílios Queremos mais A imagem ventila Sorte Vamos andar rápido pisando por inteiro Levemente rígidos, quase sem piscar Estamos cortando Vamos devagar agora e continuar olhando o limite municipal e para fruir sensações dessa imensidão o cigarro perdura aceso entre os dedos Eu dediquei uns anos da minha vida em aprender fumar cigarro Se esconde aqui embaixo Eu demorei pra aprender tudo de novo Eu demorei pra conseguir ver os dois olhos dos outros De chinelo e bermuda não solta um sorriso Gosto de quando você se sente assim Gosto mais ainda quando você se sente só Acho que estou com ciúme Na quebrada o funk estrala em gol quadrado Você ainda gosta de mim? A cidade litorânea do terceiro mundo num dia nublado Tenho saudade de quando quase formamos um grupo Andando no raso da praia até podemos ver dois peixes Aquários, geminianos, cancerígenos Nós somos os vândalos Vamos sentir o cheiro dos espaços Vamos voltar à respirar pelo nariz Tubos de ar farmacêuticos é a última droga Do fundo do meu coração eu vou mudar Contra o mundo, parece que vamos vencer Descendo uma curva larga Eu me confundi e até perdi uns anos de vida Eu não sei me divertir Eu só queria ter andado de mãos dadas com as garotas Dá pra sentir se numa queda livre deitado de bruços no colchão Basta usar a imaginação O topo das árvores chacoalham com o vento Barulhos de aço derrapando Manchas efêmeras no vítreo Plantas ornamentais imergem águas doces Observando pássaros e peixes por vitrines Eu vou atravessar a rua para me encostar no muro Neste inverno, vamos voltar para o Sol Poemas do segundo livro Animais côr de areia Sozinho num quarto de motel, vou ficar olhando para o relogio do celular para o tempo passar lento… Quando faltar uma hora para ir embora eu me masturbo. Não pense no passado. Entao eu vou parar de beber… Não, você vai dormir e acordar amanhã. Não gozei, sem wifi. Cheguei em casa. É incrível eu ter um quarto, alguém ainda gosta de mim. Abraço meu edredom. Durmo ouvindo stereolab. Eu não sei como eu fui parar embaixo de viadutos. Acho interessante pensar em quanto tempo estou sozinho. Talvez se eu sempre voltar cedo… Dos primeiros passos à fuga. E a rua se mostra como a barriga definida de uma gostosa cinza